Liberte o Herói que há em si.
Há períodos da vida que são extremamente difíceis. Situações de perda, de separação inesperadas, em que tudo se desmorona e a vida parece ser tão injusta. Tudo parece correr mal. Ficamos num impasse, não sabemos para onde nos virar.
Eu gosto de usar o paradigma do herói e da vítima. Todos somos ambas as coisas, alternando a expressão da nossa ferida (com a respectiva dor), característica da vítima e a valorização do nosso dom, que é a marca do herói.
Quando estamos num impasse, temos tendência a fechar-nos na nossa apertada zona de conforto e contraímo-nos, de forma a proteger o que resta da nossa energia. Ora, a atitude de contrair ainda desperdiça mais energia, uma vez que é defensiva e governada pelo ego. Não me perceba mal: tem todo o direito a recolher-se, a sentir-se ferido, eventualmente injustiçado pelos acontecimentos – mas pode pagar um preço alto se permanecer nesse estado de contracção.
A alternativa é entrar num estado de concentração e alinhamento do seu ser. Procure viver as suas dificuldades a partir do seu centro.
1. Centrar. Tomar consciência das sensações do seu corpo associadas ao problema que vive.
Onde sente o seu mal estar? Abrindo as mãos, em frente dessa zona do seu corpo, colocar entre elas um símbolo para essa sensação.
Preste atenção à energia que pode surgir entre as mãos. Afaste e aproxime um pouco, em vibração lenta. Imagine-se ligado a uma fonte universal de energia, perdão e cura e visualize essa energia a concentrar-se entre as suas mãos. Quando estiver satisfeito, leve essa energia ao local do seu corpo onde sente que pode residir a seu sentimento de identidade, situado abaixo do pescoço e acima da pélvis. Integre e incorpore.
2. Alinhar. Pode flectir ligeiramente os joelhos, com os pés à largura dos ombros. Sinta a coluna a estender-se, como se um colar unisse todas vértebras e fosse puxado por uma energia ascendente. Os ombros devem estar soltos, ligeiramente para trás e o olhar dirigido ao horizonte.
Experimente olhar para o seu problema como se o fizesse a partir do seu centro. Declare a sua intenção de valorizar e exprimir os seus dons, transformando-se, no seu tempo e de acordo com a energia que for mobilizando, no herói de si mesmo.
Quem é que é o dono da minha história?
Não interessa agora o grau de responsabilidade que lhe cabe na situação em que está. Quando estamos mal, essa é uma discussão que não queremos fazer. Mas convém tomar o controlo da narrativa. Um processo eficaz é empregar metáforas. Exemplo, o problema pode ser simbolizado pelo Dragão (pode criar outro símbolo, tal como Monstro ou outro qualquer que ache apropriado)
Explore as posições arquétipas perante o Dragão
INOCENTE: Não sabe que o Dragão existe. Não tem dele experiência consciente. Tem todos os recursos inconscientes mas pode carecer da capacidade de os por em uso prático.
ÓRFÃO: Experimenta o Dragão como um estado poderoso e assustador. Sente-se dominado pelo Dragão, sem defesa e sem ajuda. Tem o potencial de pedir ajuda e gritar
MÁRTIR: Sente-se perseguido e sacrificado pelo Dragão.
ERRANTE: Evita o Dragão, tenta ignorá-lo.
GUERREIRO: Sente o Dragão como inimigo a abater e luta contra ele.
FEITICEIRO: Sabe que o Dragão é poderoso e respeita-o. Quer aprender com ele e convertê-lo em aliado ou recurso potencial.
PRÁTICA:
- Coloque uma folha de papel no centro de um espaço à volta do qual se possa mover. Nessa folha pode escrever o nome especial do seu Dragão, ou pode desenhar um símbolo.
- À volta, pode imaginar ou marcar outros seis espaços, que correspondem aos arquétipos acima descritos.
- Comece por visitar o domínio do Dragão. Ao sentir esse espaço, pergunte a si mesmo: Onde está presente o Dragão na minha vida? Que relação tenho com ele, para além do problema específico que agora me incomoda?
- Sacuda o seu corpo, para se libertar dessa energia e passe para o espaço do Inocente. Como poderá sentir no seu corpo a energia da inocência? Pergunte-se se pode simplesmente ignorar a presença do Dragão. Ou se pode trazer consigo a capacidade de estar completamente disponível para tudo o de novo que possa precisar para sua viagem de herói.
- Sacuda o seu corpo, respire profundamente e visite o espaço do órfão. O órfão está completamente a seu cargo, não pertence a nada nem a ninguém. É terrível sentir-se assim, mas tem direito a exprimir essa mágoa. E pedir socorro.
- Sacuda o seu corpo. Entre no espaço do mártir. Sente-se perseguido e sacrificado pelo Dragão. Pode até ter algum prazer mórbido na repetição das histórias de como é mau o dragão. Ser vítima é um estado complexo, onde pode misturar emoções muito contraditórias. Tem direito a exprimi-las e a gritar que está farto e pedir cura para as suas feridas.
- Sacuda o seu corpo e entre no espaço do errante, do que vagueia. Aqui você quer ignorar o Dragão, pode até fingir que ele não existe e está tudo bem, tentando ocultar o seu sofrimento. Pode ser um alívio fazer isto mas no fundo, você sabe que o Dragão não desaparece desta forma. Mas você tem o direito ao repouso que este estado lhe pode dar temporariamente.
- Sacuda o seu corpo e entre no estado no guerreiro. Aqui você quer combater, derrotar e aniquilar o Dragão. Ele é o seu inimigo e tem de desaparecer. Sente uma energia feroz e dirigida contra algo que lhe faz mal. Tem direito a exprimir a sua raiva e a sua agressividade.
- Sacuda o seu corpo e entre no espaço do Feiticeiro. Pode não ser logo fácil entrar na energia do Feiticeiro, aquele que se sente ligado a tudo o que existe e encontra recursos até nos seus opositores. Sugiro entre em contacto com situações da sua vida em que foi capaz de dar a volta aos problemas e encontrou forças que julgava não ter. Aja como se fosse capaz de reenquadrar o seu problema como uma fonte de experiência e novas oportunidades. Ao aceitar o Dragão, o feiticeiro que há em si opera uma transformação alquímica e pode até transformar o próprio dragão.
- Reflicta em qual destes espaços se sentiu melhor? Onde sentiu que vive na maior parte do tempo? Qual lhe pode convir para resolver o seu impasse e partir para a sua jornada, sem medo do dragão?
- Para a sua Jornada do Herói, deve ser capaz de integrar as energias do inocente, do órfão, do mártir, do errante e do guerreiro e do feiticeiro. O inocente para a disponibilidade, do órfão para pedir socorro, do mártir para honrar a sua dor, do errante para olhar para outras áreas da sua vida, do guerreiro para a assertividade e do feiticeiro para a transformação.
Será bem-vindo num dos workshops “Chama por Ti” da academia Voar a Cores, onde empregamos estas e outras práticas de descoberta e libertação pessoal.
O tema de Arquétipos é desenvolvido nos nossos cursos presenciais ou online, 12 Arquétipos na Jornada da Vida e Heróis Interiores- Luz e Sombra.*
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Carlos Baltazar
Publicado em 21/12/2020