Na Programação Neuro Linguística, uma arte e uma tecnologia de comunicação interior e exterior, a Linguagem tem uma importância central.
Começa por ser um veículo de comunicação, mas também é um evento externo quando ouvimos alguém (considere a diferença entre ser elogiado ou ser insultado) e um comportamento, aquilo que dizemos ao outro (e a nós mesmos).
A Linguagem é um meio de representar o mundo e de modelar a realidade. Isto é, nós criamos representações e modelos que descrevemos através da linguagem. Pense, por exemplo, no seu prato favorito e considere como imediatamente o começa a descrever, mesmo que não tenha interlocutor.
No principal trabalho de Korzybski, Science and Sanity (1933), afirma-se que o progresso humano é, em grande parte, resultado do seu sistema nervoso mais flexível que é capaz de formar ou usar representações simbólicas, ou mapas. A linguagem, por exemplo, é um tipo de mapa ou modelo do mundo que nos permite resumir ou generalizar as nossas experiências e passá-las para os outros, poupando-os de fazerem os mesmos erros ou reinventar o que já foi descoberto. Segundo Korzybski, essa capacidade de generalização linguística dos humanos é responsável pelo nosso enorme progresso sobre os animais, mas a divergência e o uso errado de tais mecanismos simbólicos foram também responsáveis por muitos dos nossos problemas. Ele sugeria que os humanos precisavam ser corretamente treinados no uso da linguagem para evitar os desnecessários conflitos e confusões que resultam da não distinção entre o 'mapa' e o 'território.' Ou seja, entre a interpretação e expressão pessoal e a realidade exterior.
Segundo o modelo básico de comunicação da PNL, a informação disponível que nos chega pelos sentidos é tratada de várias formas.
Num primeiro nível, consideramos os filtros básicos de comunicação (a que N. Chomsky chamou Processos Universais de Modelagem). São estes a Omissão (deleção na versão brasileira), a Generalização e a Distorção.
Estes filtros funcionam em aliança com as nossas estruturas de personalidade: Crenças, Valores, Memórias, Decisões, traços fundamentais de temperamento (chamamos-lhe Meta programas na PNL). E, naturalmente, a Linguagem.
É verdade, a Linguagem também é um filtro complexo. Quem tem uma linguagem pobre, tem um pensamento restrito. A linguagem que usamos tece e cria uma estrutura que condiciona a forma como processamos e modelamos a informação que nos chega e aquela que queremos transmitir.
Para entendermos melhor o processo de comunicação e o funcionamento dos filtros básicos, pensemos na passagem dos eventos externos para as nossas percepções e, inevitavelmente, interpretações.
A informação disponível é complexa e, em geral, demasiado detalhada para ser absorvida tal qual. De resto isso é impossível, visto que a percepção já é uma apropriação subjectiva. A omissão encarrega-se de reduzir a informação disponível, conforme o nosso foco de atenção, a generalização categoriza e classifica e, uma vez que interpretamos, necessariamente distorcemos de acordo com as nossas crenças e modelo do mundo.
E podemos agora considerar que vamos passar o que sabemos e conhecemos (julgamos saber e conhecer) para outros através da fala ou da escrita. Novamente iremos simplificar, generalizar e distorcer.
E o que acontece quando esta verbalização chega ao ouvinte ou leitor? Ele vai interpretar, omitindo, distorcendo e generalizando.
É quase um milagre que, apesar destes ‘acidentes’, sejamos capazes de comunicar.
De facto somos animais sociais, para nós a comunicação é inevitável e somos treinados para lidar com estes filtros, embora de modo inconsciente.
Para a PNL, é importante que nos tornemos ‘líderes de comunicação’, isto é, capazes de assumir a autoria e responsabilidade de fazer passar os nossos conteúdos, percebendo os mecanismos da comunicação eficaz, assim como as suas armadilhas.
MODELOS DE LINGUAGEM
Na PNL (Programação Neuro Linguística) trabalhamos com três abordagens ou modelos de linguagem.
1.
Linguagem analítica ou de precisão. Trata-se do Metamodelo da PNL, e consiste na clarificação da comunicação linguística que nos chega pelas frases que escutamos ou lemos, através da colocação de perguntas escolhidas adequadamente.
Metaforicamente, podemos pensar que recebemos dos outros nuvens de informação confusa e superficial e as nossa perguntas irão recuperar informação perdida, desfazer generalizações e corrigir distorções.
Exemplo: alguém afirma que o mundo está perdido, visto que há cada vez menos respeito e ninguém assume responsabilidades.
Poderíamos questionar: “Como estabelece de facto a relação entre a falta de respeito que observou e a situação do mundo”. Ou “quem não respeita o quê?”. Ou ainda: “Quem de facto não assume responsabilidade?”.
Estas foram somente alguns exemplos de perguntas possíveis (muitas mais seriam possíveis) para desfazer a nuvem que foi entregue na frase original.
O tema do Metamodelo será tratado em outro artigo.
2.
Linguagem fluente ou hipnótica. Um dos grandes inspiradores da PNL foi o psiquiatra americano Milton Erickson, conhecido pelo modelo de hipnose conversacional que desenvolveu.
A linguagem torna-se, aqui, sagazmente vaga e genérica.
Da observação da prática de Erickson, a PNL extraiu aquele que designamos por Modelo de Milton. Trata-se de um conjunto de padrões de linguagem que permitem baixar as resistências do ouvinte, criando uma relação de confiança e ‘rapport’.
Em outro artigo abordaremos em mais pormenor o modelo de Milton.
3.
Linguagem simbólica e metafórica.
Poderíamos considerar este um subsector do Modelo de Milton, já que Erickson empregava extensiva e frequentemente metáforas e histórias terapêuticas.
Todavia, dentro da PNL houve um grande desenvolvimento deste tema, com mais sistematização e diferentes perspectivas. Também este assunto será alvo de outro artigo dedicado.
Carlos Baltazar
Publicado em 01/03/2023