A importância de ser importante

“Ser reconhecido, ser valorizado e sentir-se importante são as três maiores necessidades do ser humano”

(Thomas Dewey)
Depois de satisfeitas as necessidades básicas de sobrevivência, que são semelhantes às dos outros animais, o ser humano tem necessidades complementares que são próprias da sua evolução mental.
Segundo A. Robbins (um dos divulgadores mais conhecidos da PNL), estas são as necessidades humanas mais relevantes:
Estabilidade, variedade, conexão, crescimento, significado e contribuição.

A aspiração de ser importante está muito ligada à necessidade de ser visto, reconhecido e apreciado, mas só se compreende no contexto de todas as outras, como veremos.
O que é SER importante? Na prática, o que queremos é sentirmo-nos importantes.
Cada um de nós pode fazer diversas interpretações deste conceito, tais como:
• Parecer importante. Sinto-me importante se parecer importante.
• Sinto-me importante quando tenho a percepção de que outros (a quem dou ‘importância’) me julgam importante.
• Sinto-me importante quando julgo os outros como menos importantes do que eu.

Como nos sentimos valorizados, significativos e importantes?
Vejamos duas abordagens alternativas:

1- Através da UNIÃO
• Contribuir com algo valioso para os outros e para si mesmo
• Estar em contacto com o seu eu profundo, atento e consciente
• Pertencer a comunidades baseadas em respeito mútuo
• Abertura do campo da consciência
• Manifestar assertivamente o seu poder pessoal
• Investir no seu desenvolvimento humano

2- Através da SEPARAÇÃO
• Inflação da auto-imagem
• Ser ‘melhor’ que outros
• Defender o seu território
• Ego competitivo
• Fecho do campo da consciência

O julgamento é um precursor do sentimento de falsa importância.
Como podemos reconhecer este estado? Muito simples: se sentirmos uma sensação de superioridade e separação dos outros, estamos a julgar.

A aspiração de sentir-se importante no quadro da UNIÃO só se consegue satisfazendo ao mesmo tempo as necessidades de crescimento, conexão e contribuição. Na verdade, só somos importantes na medida em que nos tornamos importantes para alguém, o que implica estar conectado e contribuir para a importância do outro.
Ser importante neste sentido também implica crescimento individual, sem o que o sujeito paralisa e se fecha em defesa contra a novidade e a diferença.

Importante como, para quê, de acordo com que critérios, à vista de quem?
Que resultados queremos obter com o sentimento de ser importante?
Quando exprimimos um desejo, na maior parte das vezes aquilo que queremos é um instrumento para algo mais. Distinguimos pois o objectivo (aquilo que afirmamos querer) do seu resultado.
O que é de facto significativo no sentimento de ser importante? Talvez tenhamos maior reconhecimento por parte dos outros. E isso serve para quê, além de alimentar o ego?
Note que eu não estou a desvalorizar este ponto: uma vida gratificante pede um ego saudável, sem problemas de autoestima e também contido e mantido sob observação.
Mais importante do que receber aplauso externo é a segurança e o conforto de termos um valor reconhecido e podermos usar este enquadramento favorável para o nosso maior desenvolvimento e empenho em relacionamentos significativos.

Quem avalia o grau de importância que temos?
Todos nós precisamos de validação e aprovação em relação ao que fazemos, acreditamos e somos. As pessoas mais equilibradas sentem-se bem quando recebem um misto de validação externa e interna.

Na obra de Carlos Castaneda “Arte de Sonhar”, Don Juan diz a Carlos:
"… a maior parte da nossa energia é investida na nossa importância...mas se fossemos capazes de perder alguma dessa importância, duas coisas extraordinárias poderiam acontecer-nos:

  • Libertaríamos a nossa energia aprisionada em tentar manter uma ideia ilusória de grandeza; e
  • Ofereceríamos a nós mesmos energia suficiente para conseguir um relance da verdadeira grandeza do universo.”

Don Juan refere-se à falsa importância do ego, que tem a ver com o quadro de separação, exposto anteriormente. Nesta opção, a energia colocada em criar uma personagem “importante” é perdida em detrimento da conexão espiritual.

Para algumas pessoas, a sua importância manifesta-se penosamente na sensação de transportarem o mundo às suas costas. Nada se move, os problemas não se resolvem sem a sua sofrida dedicação.
Porque escolhem esta via?
Todos precisamos de proteger a nossa identidade de agressões. Desde a infância que o mundo exterior nos ensina como havemos de nos comportar, como devemos ser para não criar problemas. É muito natural defendermos a nossa identidade contra a diluição. A via mais fácil é a criação de uma personagem importante.

Somos seres sociais e impermanentes. Isto é: somos transitórios, estamos em trânsito entre duas enormes passagens, o nascimento e a morte e transitamos energeticamente entre os mais diversos estados emocionais. E só somos realmente alguém na troca energética entre seres: o meu ser interior, o meu ser exterior, e todos os seres que me rodeiam.
A nossa importância é enorme porque transportamos uma chama de vida que é única e infinita na sua aparentemente limitada dimensão. Trazemos esta chama para acender outras chamas e fazemo-lo através do espaço e dos lugares e através do tempo e das gerações.
Simultaneamente, aliamos a grandeza a pequenez. Somos ínfimas partes da natureza, não controlamos nem a nossa mente, quanto mais a nossa criação.
Vivemos numa sociedade baseada na transacção de produtos e bens de consumo. Mas a verdade é que só nos realizamos quando percebemos que a nossa vocação é transaccionar energia espiritual, ensinamentos e emoções.
A nossa importância é sermos portadores de uma mensagem. Somos tão importantes como a mensagem que transportamos. Somos tão importantes quanto a importância que damos a essa missão.

Uma via para criar um sentimento de valor próprio.

1- Não pode haver auto apreciação sem um objecto próprio. Isto é, se queremos ter uma boa noção da nossa importância devemos, primeiramente, cuidar que as nossas acções sejam significativas e contribuam para melhorar a nossa vida e dos outros. Não interessa a humildade ou relativa grandeza daquilo que se faz - interessa a qualidade e empenho que colocamos nas nossas acções.
2- Avalia positivamente os teus êxitos e aprende com os insucessos. Os êxitos não te promovem para o estrelato mas tens direito a usufrui-los até à última gota de satisfação. E os insucessos não passam de episódios momentâneos se retirares deles o ensinamento do que não funciona e pode ser melhorado.
3- Aceita que tens responsabilidade pessoal sobre todos os teus actos e escolhas. Responsabilidade envolve acção e novas escolhas, não culpa e lamentação.
4- Crescimento e contribuição. O investimento em ti é inseparável do investimento no teu mundo exterior e nos seres que o partilham.

A medida na nossa importância é a importância que damos ao lugar do outro.

NOTA: Muitos dos meus clientes de coaching e participantes em formações de PNL apresentam questões relativas à sua posição no mundo. A necessidade de pertencer, fazer parte e ser apreciado é universal!

Carlos Baltazar
Publicado em 29/11/2021

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